Permissão para ser você mesmo: uma lição da Psicologia Junguiana
Um dos estados que a Psicologia Junguiana tenta entender e nos ajudar a lidar é a culpa.
E ela reconhece diferentes tipos de culpa.
Há um desses estados que acho muito interessante e sempre destaco em meus diálogos. E por acreditar que muitos de vocês que estão lendo isso serão capazes de se relacionar com esse tipo de culpa ou, egoisticamente, porque eu me relaciono, resolvi escrever um pouco sobre isso.
Esse tipo de culpa, ou essa coisa que chamamos de culpa, não é uma culpa real. É uma defesa contra maiores angústias ou ansiedades, que residem em nosso subconsciente.
Por exemplo, muitas vezes ouvimos as pessoas dizerem como elas se sentem culpadas por dizer não a alguém ou por expressar sua raiva, ou talvez até uma emoção menos "problemática". Ouvimos as pessoas dizerem como se sentem culpadas por não serem os pais perfeitos ou outro papel com o qual se identificam.
Provavelmente não lhes surpreenderá saber que a Psicologia Junguiana reconhece que esses sentimentos nos foram condicionados desde a infância.
A criança naturalmente age de acordo com todos os seus desejos e impulsos espontaneamente. No entanto, em muitos casos, esses desejos e impulsos vão de encontro às paredes e barreiras do mundo adulto. O mundo adulto que tem o poder de punir ou negar aprovação e carinho. E, como diz o psicólogo junguiano James Hollis:
"Nenhuma criança fica confortável por muito tempo em um terreno desolado e rapidamente aprende a conter os impulsos inaceitáveis".
Tais encontros com autoridades restritivas são inevitáveis na infância de todas as pessoas. A partir desses encontros, começamos a internalizar restrições contra os nossos próprios impulsos. Portanto, o que chamamos de culpa nesses casos é frequentemente um estado de sentimento reativo e protetor de uma criança. Hollis dá uma metáfora para isso, dizendo:
"É como se, quando surge um impulso natural, a raiva, por exemplo, uma mão alcançasse esse impulso e o sufocasse. Uma reação tão reflexiva assim pode governar a vida de uma pessoa que sofrerá considerável auto-alienação."
Sentir-se culpado por dizer não a alguém ou por expressar uma emoção que pode ser considerada inapropriada é na verdade uma defesa contra a possibilidade de que o outro, ou os outros, tornem-se descontentes conosco.
O fato é que a maioria das pessoas foram condicionadas desde a infância a serem sempre agradáveis, e não reais, acolhedoras, em vez de autênticas, e adaptativas, em vez de assertivas. E embora esse tipo de condicionamento tenha seu valor e ajude a transformar as pessoas em membros civilizados da sociedade, isso pode ser facilmente desviado do seu propósito e causar mais danos que benefícios. E Jung acreditava que, de fato, frequentemente, isso causa muito mais dano do que imaginamos.
Condicionar alguém a ser gentil e sempre socialmente conveniente, mesmo às custas de entrar em contato com tudo o que está dentro deles, cria uma "pessoa sem sombra", que significa que essa pessoa está inconsciente da existência de sua sombra. E uma pessoa sem sombra, segundo Jung, é uma pessoa superficial.
O que esse tipo de culpa como defesa contra angústia reflete, então, é a falta de permissão para ser você mesmo.
No entanto, é aqui que a psicologia junguiana realmente brilha, na minha opinião. Todo estado negativo também é uma oportunidade de entrar em contato com nossa psique, ou nossa alma, e descobrir o que é exigido de nós naquele momento ou daquele ponto de nossas vidas.
Portanto, em momentos que este tipo de culpa esteja presente, somos convidados a nos perguntar:
"Contra o que estou me defendendo?"
Regularmente, a resposta será que estamos nos defendendo da possibilidade de que alguém não esteja feliz com nossas decisões ou ações.
No entanto, no mundo real, deve-se focar em ser, como Hollis diz: "Uma pessoa de valor e não um camaleão emocional". Para fazer isso, devemos viver nossas próprias vidas e fazer nossas próprias escolhas, e agradar os outros não pode ser nossa prioridade na vida.
Precisamos perceber que essa angústia da qual estamos tentando nos proteger vem daquele tempo de vulnerabilidade na infância. E exatamente porque esse sentimento de vulnerabilidade nunca estará totalmente perdido, mas sempre residindo no nosso inconsciente, é que existirão momentos em que ele surgirá e assumirá o controle.
A psicologia junguiana nos ajuda a lidar com isso, lembrando-nos que, desde a época dessa vulnerabilidade infantil, você evoluiu e se transformou em um adulto. Um adulto que é perfeitamente capaz de pensar e atuar como um indivíduo independente. Mais importante ainda, um adulto capaz de viver uma vida realizada, mesmo que outros estejam insatisfeitos ou infelizes com as escolhas que você fez.
Dê a si mesmo permissão para ser você mesmo.
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Obrigada por compartilhar este conhecimento e sua forma de compreensão, fez muito sentido para mim e sua forma de explicar traz muita clareza! Sou estudante de psicologia e simplesmente amo todo esse conhecimento e estudo <3