Os 3 diferentes níveis de amizade, de acordo com Aristóteles há mais de 2.000 anos.
Em um mundo cada vez mais interconectado, onde as relações sociais se transformam e se multiplicam ao ritmo dos avanços tecnológicos, as reflexões sobre a natureza e o valor da amizade continuam tão pertinentes quanto eram na Grécia antiga. Nas palavras do poeta John Donne, "nenhum homem é uma ilha", e essa necessidade intrínseca de conexão e relação com os outros é uma das poucas constantes em uma realidade em constante mudança.
Os filósofos têm explorado a ideia de amizade ao longo da história, e as ideias de Aristóteles, apresentadas em sua obra "Ética a Nicômaco", continuam a ser uma referência essencial. As noções aristotélicas de amizade por utilidade, amizade por prazer e amizade por virtude persistem como uma tríade eficaz para entender as várias camadas de nossos relacionamentos interpessoais. Cada um desses níveis reflete um aspecto específico de nossas interações humanas, que variam desde a mera troca de favores até a profunda ligação baseada na virtude mútua.
Filósofos posteriores como Immanuel Kant e Friedrich Nietzsche também abordaram o tema da amizade. Kant, por exemplo, concordou com Aristóteles que a amizade de virtude era a mais elevada, enquanto Nietzsche desafiou essa visão, argumentando que a amizade muitas vezes carecia de profundidade e verdadeiras conexões íntimas.
No entanto, para captar o verdadeiro significado da amizade, devemos nos voltar para a sabedoria perene de Aristóteles. Sua abordagem da amizade, tão relevante hoje como era há mais de dois milênios, nos oferece um mapa para navegar pelas complexidades de nossos relacionamentos modernos. Por isso, convido vocês a mergulhar no pensamento deste grande filósofo e explorar os três níveis da amizade, como Aristóteles os concebeu na sua Ética a Nicômaco.
Aristóteles sobre os 3 diferentes níveis de amizade
1. A amizade por utilidade. Essas amizades são baseadas no que alguém pode fazer por você, ou no que você pode fazer por outra pessoa.
Pode ser que você fale bem de alguém, e essa pessoa lhe dê um presente em troca. Tais relacionamentos têm pouco a ver com o caráter, e podem acabar assim que qualquer possível utilidade para você ou a outra pessoa é removida da equação.
2. A amizade por prazer. Estas são as amizades baseadas no gozo de uma atividade compartilhada ou na busca de prazeres e emoções fugazes.
Este pode ser alguém com quem você sai para um bate papo despretensioso, ou com quem compartilha um hobby em particular, e é um nível comum de associação entre os jovens, segundo Aristóteles. Este tipo de relacionamento pode novamente terminar rapidamente, dependente como é das constantes mudanças nos gostos e desgostos das pessoas.
3. A amizade por virtude. Estas são as pessoas de quem você gosta por elas mesmas, que geralmente te influenciam positivamente e te impulsionam a ser uma pessoa melhor.
Esse estilo de vínculo, fundamentado na natureza de dois seres autossuficientes e iguais, demonstra uma estabilidade superior se comparado às duas categorias precedentes. Embora Aristóteles lamente a raridade de tais relacionamentos puros e mutuamente apreciativos, ele acredita que eles são possíveis entre duas pessoas virtuosas que podem investir o tempo e a energia necessários para forjar tal vínculo.
Aristóteles estabeleceu esses níveis de amizade em sua "Ética a Nicômaco", escrita por volta de 350 a.C.
Obra-prima da filosofia moral, a Ética a Nicômaco contém a visão de Aristóteles de como os seres humanos podem alcançar a eudaimonia, que é traduzida do grego como 'bem-estar', 'felicidade', 'bem-aventurança', e no contexto da ética da virtude que Aristóteles defendeu, 'florescimento humano'.
Embora as amizades por utilidade e prazer tenham seu lugar, trabalhar para elevá-las às cobiçadas amizades por virtude é uma parte importante para alcançar tal florescimento em nossas próprias vidas.