Todos nós sabemos que a grama nem sempre é mais verde do outro lado. Contudo, frequentemente nos pegamos contemplando o jardim do vizinho, desejando que fosse nosso. Por que fazemos isso? E quais são os perigos por trás de nos compararmos aos outros?
Neste ensaio, explorarei as razões por trás das comparações interpessoais e compartilharei alguns bons conselhos para direcionar esse hábito complicado a nosso favor.
As raízes da comparação
Se você já se perguntou "sou só eu?", permita-me tranquiliza-lo que a resposta é não. O motivo pelo qual fazemos comparações é de fato uma tendência humana muito comum e tem suas raízes na evolução.
Os humanos são 'animais sociais' e nossos ancestrais sempre viveram e sobreviveram em grupos. Comparar-se aos outros serve como uma orientação para identificar-mos onde nos situamos em um grupo e se precisamos tomar alguma ação para melhorar nosso desempenho ou posição.
Na psicologia, a teoria da comparação social de Festinger afirma que os humanos não conseguem se definir independentemente, mas apenas em relação a outros indivíduos. Então, curiosamente, comparar nossos comportamentos, opiniões e sentimentos aos de outra pessoa é necessário para encontrar melhores respostas para a pergunta eterna sobre quem nós somos.
De acordo com essa abordagem, podemos identificar dois tipos de comparação social:
A comparação ascendente: quando nos comparamos a pessoas que consideramos melhores que nós;
A comparação descendente: quando nos comparamos a pessoas que consideramos piores que nós.
Comparar-nos é necessário para encontrar melhores respostas para a eterna pergunta sobre quem somos.
A motivação por trás dessas formas de comparação é influenciado por uma variedade de fatores. Seria simplista demais afirmar que uma conduz à situação A e a outra à B. As repercussões de tais comparações são intrinsecamente dependentes da personalidade e das características individuais de cada pessoa.
No primeiro caso, podemos usar a comparação ascendente para avaliar nosso desempenho (autoavaliação) e mudar nosso comportamento para ter um melhor desempenho (autodesenvolvimento). Diferentemente, com a comparação descendente, geralmente somos movidos pelo desejo de autovalorização e fazemos isso para nos sentirmos melhor conosco e com nossas vidas.
Agora, tudo isso pode parecer confuso, eu sei! De um lado, temos uma necessidade biológica de nos comparar aos outros, enquanto, por outro lado, sabemos que a comparação muitas vezes leva a sentimentos desafiadores. E agora? Qual é a maneira correta de encarar isso?
O lado sombrio das comparações...
No geral, comparar-nos aos outros provou ter um forte efeito sobre nossa autoimagem, autoestima e motivação. Muitas vezes distorcemos nosso julgamento comparando nossas menores qualidades às melhores qualidades de alguém. É como julgar um peixe pela sua capacidade de subir em uma árvore.
Uma outra perspectiva a ser considerada é a precisão do objeto de nossa comparação, isto é: é realista estabelecermos uma comparação conosco e essa pessoa específica? Mais uma vez, enquanto alguns indivíduos podem ser intensamente motivados pelo desejo de se tornarem atletas olímpicos, outros podem confrontar o sentimento de 'isso é algo que nunca serei capaz de realizar...' e, por consequência, sofrem uma perda de motivação.
E enquanto as teorias psicológicas por trás das comparações estiveram presentes ao longo de toda a nossa história, nossas estruturas sociais mudaram tremendamente desde os tempos antigos. Na verdade, as oportunidades para colocar em prática esses hábitos de comparação se tornaram incrivelmente altas nos últimos anos, também graças ao nosso uso das redes sociais.
Dentro do mundo online, estamos constantemente expostos às vidas, sucessos e conquistas de outras pessoas. Temos um número infinito de coisas para nos compararmos e, na maior parte do tempo, não são benéficas para nós.
Refletindo sobre isso: você já se encontrou navegando pelo feed enquanto pairava acima das nuvens, e se sentiu triste ou invejoso por alguém supostamente ter um corpo melhor, um relacionamento melhor, um emprego melhor, uma casa melhor e assim por diante?
A questão é que facilmente desconsideramos que o que presenciamos nas redes sociais são meramente os destaques das vidas alheias, que normalmente não retratam as suas rotinas e realidades quotidianas.
No entanto, apesar de ser uma comparação imprecisa, muitos de nós ainda tendemos a cair nessa armadilha e avaliar nossas vidas com base no que vemos dos outros. Questionar até que ponto esse mecanismo de comparação realmente nos beneficia - tanto online quanto offline - pode ser o primeiro passo para ser menos sensível aos seus efeitos negativos.
...e seu lado bom.
Um dos meus ditados prediletos expressa: para irradiar sua luz de forma mais vívida, é essencial ser autêntico, ser verdadeiramente você. Dessa maneira, a comparação social não é intrinsecamente prejudicial. Ela também pode gerar efeitos positivos quando empregada de modo construtivo, como por exemplo, ao buscar inspiração em outros ou ao procurar orientação.
As comparações também podem nos fazer perceber onde estamos na vida e onde gostaríamos de chegar no futuro. Elas podem servir como uma ferramenta para medir nosso progresso e como um valioso motivador para o autodesenvolvimento.
O ponto chave para alcançar isso é: mentalidade de crescimento!
Volte seu olhar para si mesmo
Quando a urgência de se comparar com os outros surge e não traz nenhum benefício, eis algumas orientações que podem auxiliá-lo a modificar sua perspectiva e redirecionar seu foco do exterior para o seu próprio interior:
Lembre-se de que você já é bom o suficiente. Concentre-se em suas forças e sucessos.
Estabeleça metas realistas e pense sobre quais ações tomar para alcançá-las. O que funciona melhor para você?
Tente evitar estímulos que desencadeiam comparações nocivas, caso seja possível. Por exemplo, pense em reduzir o uso das redes sociais.
Em vez de direcionar sua atenção estritamente para os objetivos, procure reposicionar seu foco para a própria jornada, para o processo. Posteriormente, estabeleça uma comparação com seu eu anterior: como estava sua situação no ano passado? Quais aprendizados você obteve desde então?
Observe o panorama geral: você está generalizando ou supondo algo incorreto sobre a pessoa com quem está se comparando?
Ser você mesmo é o seu superpoder
Comparar-nos aos outros é um processo normal da cognição humana. Embora nem todas as comparações sejam necessariamente desfavoráveis, é importante olhar regularmente para dentro de si mesmo para enfrentar quaisquer possíveis emoções negativas que elas possam causar.
Se você se pegar entrando neste padrão, redirecione sua energia para o que realmente importa para você. Essa é uma prática contínua que o ajudará a reconhecer quando esse hábito pode se tornar prejudicial para sua saúde mental.
No fim das contas, não existe ninguém no mundo 'mais você do que você mesmo'. Então, por que não ousar em ser a versão mais aprimorada de si próprio?
Muito bom o texto!