Há cerca de 2.500 anos, no norte da Índia (atual Nepal), um príncipe chamado Siddhartha Gautama deixou sua vida de luxo e partiu em busca de uma solução para o sofrimento humano.
Ele vagou por anos, sem conseguir progredir; até que uma noite, depois de se amarrar a uma figueira, meditar incansavelmente e ter uma visão noturna de como o mundo realmente é, ele finalmente alcançou a iluminação.
Desse momento em diante, Siddhartha passou a ser "Buda" (que significa literalmente "o desperto") e passou os 45 anos seguintes viajando para compartilhar sua filosofia.
Buda reuniu suas principais lições no que ficou conhecido como as "Quatro Nobres Verdades". Elas estão registradas em um sutta importante intitulado (em sânscrito) Dharmacakrapravartana Sūtra, que significa "Colocar em movimento a roda do ensinamento" - o primeiro sermão dado pelo Buda após sua iluminação.
Buda fala a cinco monges em um lugar chamado Deer Park. Ele primeiro oferece seu "Caminho do Meio" - sua ideia de que a iluminação não deve ser encontrada por meio da indulgência extrema, nem do ascetismo extremo, mas por meio de um caminho do meio de moderação. Em outros suttas, essa lição de evitar os extremos é aplicada não apenas ao estilo de vida, mas a todos os comportamentos.
Em seguida, Buda oferece as Quatro Nobres Verdades. Em resumo, são elas:
Existe dukkha (sofrimento)
O sofrimento tem uma causa
O sofrimento pode ser eliminado
Existe um caminho para eliminar o sofrimento (o Caminho Óctuplo)
Vamos explorar cada uma delas com um pouco mais de detalhes.
1. Existe dukkha (sofrimento)
Ao oferecer essa verdade, Buda detalha:
"Nascimento é sofrimento, decadência é sofrimento, doença é sofrimento, morte é sofrimento, estar unido ao desagradável é sofrimento, estar separado do agradável é sofrimento, não conseguir o que se deseja é sofrimento".
Em outras palavras, a vida é sofrimento. A existência é caracterizada pelo sofrimento, porque tudo acaba. Mesmo que você seja feliz, essa felicidade acabará. Mesmo que esteja cheio de amor pelas pessoas em sua vida, um dia você e essas pessoas morrerão.
Essa pode parecer uma perspectiva assustadora, mas na verdade é apenas realista, pensam os budistas. Viver em negação sobre a natureza da realidade só criará mais sofrimento, o que nos leva à segunda verdade.
2. O sofrimento tem uma causa
Ele diz:
"É a ânsia (tanha) que renova o ser e é acompanhada pelo desejo e pela luxúria, o desejo por isso e por aquilo. Em outras palavras, a ânsia por prazeres sensuais, a ânsia de ser, a ânsia de não ser".
A razão pela qual sofremos é o apego que temos a certos desejos. Alguns estudiosos traduzem "tanha" como "desejo" em vez de ânsia, o que pode ser enganoso. Buda não está dizendo que todo desejo é o problema - temos desejos naturais de comer e beber, por exemplo - apenas que formar apegos doentios aos nossos desejos é problemático.
A ânsia pela satisfação de nossos desejos causa sofrimento. Se sentirmos a necessidade de atingir certas metas, adquirir certos itens, ser popular com certas pessoas, satisfazer certos prazeres - então estamos apenas nos preparando para mais sofrimento.
Pois, mesmo que consigamos tudo o que queremos, logo desejaremos algo novo e nunca acabaremos com o zumbido de insatisfação provocado pelo ciclo desejo/aquisição.
Enquanto continuarmos a ver a realidade pelas lentes do eu, do desejo e do apego, esse ciclo de sofrimento nunca terá fim, adverte Buda, o que nos leva à terceira verdade.
3. O sofrimento pode ser eliminado
Buda elabora:
"É a completa cessação desse desejo, a eliminação das paixões, de modo que o desejo possa ser deixado de lado, abandonado, não mais abrigado e liberado".
Quando não há anseio, não há sofrimento: é simples assim. Eliminar o desejo é, portanto, a tarefa completa do budismo.
É claro que, embora pareça simples, nos livrarmos de todo apego é uma tarefa gigantesca. Significa encarar e desmantelar atitudes e formas absolutamente fundamentais de vivenciar o mundo.
Felizmente, Buda oferece um caminho.
4. Existe um caminho para eliminar o sofrimento (o Caminho Óctuplo)
Como ele explicou:
"Existe um caminho que leva à cessação do sofrimento: é, de fato, o Nobre Caminho Óctuplo: visões corretas, intenções corretas, fala correta, ações corretas, meios de vida corretos, esforço correto, atenção plena correta e concentração correta".
Os componentes do Caminho Óctuplo encapsulam o guia budista do "Caminho do Meio" para a vida e geralmente são divididos em três categorias: sabedoria, ética e disciplina mental.
Embora o budismo possa parecer baseado em uma premissa bastante pessimista - ou seja, a vida é sofrimento - ele oferece uma solução esperançosa: esse sofrimento pode ser eliminado.
Ao enfrentarmos nossos desejos doentios de frente, nos livrarmos do desejo baseado no ego e seguirmos o Caminho Óctuplo, podemos alcançar a tranquilidade.
No entanto, isso não é fácil e não deve ser encarado com leviandade; é a tarefa de uma vida inteira.